sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Ato II: A Assembleia VII

Capítulo 15

Alanna, Arannis, Arthur, Elros, Luize, Malaggar e Shaisys seguiram pelo túnel com cuidado. Foram alguns minutos de caminhada até notarem o brilho de tochas mais à frente. Aparentemente não haviam sido percebidos, então resolveram tentar chegar sem fazer barulho. O eladrin, o drow e a halfling se adiantaram, esgueirando à frente do grupo para chegar no salão e pegar os inimigos despreparados. Porém, um tropeção do vingador resultou num pisão forte no filete de água do esgoto, fazendo barulho. A bruxa também trombou nele e, sem equilíbrio, acabou repetindo a trapalhada.
Sons de cadeiras sendo arrastadas e vozes de espanto foram ouvidos e logo que os aventureiros chegaram na abertura que ligava o túnel ao salão, encontraram seus inimigos já preparados para a batalha. Quatro humanos com clavas estavam juntos de outros três grandalhões humanos que carregavam grandes machados. Ainda havia um gnomo vestindo peles e empunhando uma picareta de guerra. Os dois grupos se jogavam um contra ou outro numa onda de insultos e golpes.
Como era de se esperar, os bandidos mais simplórios foram eliminados de maneira rápida. Os aventureiros avançavam pelo salão sem muita resistência, suas armas trabalhando incessantemente para se banhar no sangue dos oponentes. Os brutamontes conseguiam impor danos consideráveis ao grupo com seus grandes machados e músculos potentes, mas sua falta de defesa e tamanho os faziam alvos fáceis para os golpes inimigos.
O gnomo conseguia ser uma verdadeira dor de cabeça, depois de desaparecer conseguira um golpe certeiro nas costas do drow, a picareta bebendo do sangue do vingador com facilidade conforme seu portador se esgueirava pela luta sem ser importunado. Luize e Alanna seguiam prestando auxílio aos combatentes diretos para mantê-los com espírito de batalha enquanto Elros e Arthur atraiam os ataques inimigos. Com isso, Arannis, Shaisys e Malaggar tinham mais liberdade para usar seus golpes e magias das maneiras mais eficientes possíveis, sem ter que se preocupar demais com a própria sobrevivência.
A batalha perdurou por algum tempo, mas aos poucos os invasores conseguiram obliterar a resistência. Nenhum refém foi feito, mais uma vez. Todos os adversários eram membros da gangue dos Bodes Negros, mas ninguém tinha coisas de valor por ali. Pelas condições do esconderijo e de seus equipamentos fajutos, era de se imaginar que estavam começando a se juntar ainda, sem grandes feitos ou conquistas. Tudo ali era precário e alguns pareciam mais mendigos que lutadores. Mais uma vez o alaúde da barda trabalhou para inspirar os aliados enquanto recuperavam o pique.

...

Depois de vários minutos de caminhada no fedor do esgoto úmido, o filete de água suja já tinha o dobro do volume, correndo para o lado oposto ao que eles seguiam. Vários ratos e baratas eram avistados nestes corredores, também com sinais de dejetos e todo tipo de imundice. A distância entre o salão que deixaram e o que avistaram em seguida era razoável. Aquilo parecia uma base de operações muito simplória, os pontos de defesa incomunicáveis entre si. Isso só demonstrava a situação em que os Bodes Negros tentavam se reerguer. Shaisys sabia que não eram nem sombra do que já foram alguns anos atrás.
O corredor curto ia se abrindo e tochas já eram avistadas nas paredes. Logo à frente um salão tinha outros inimigos esperando por eles. Ambos grupos se observando ao longe, apenas as silhuetas escuras à frente da luz. Numa rápida contagem, os aventureiros visualizaram seis opositores, todos sacando armas e fitando-os com a mesma curiosidade que antecede o embate de armas. Os invasores se adiantaram em seguir pela abertura do túnel enquanto os bandidos se posicionavam no salão para melhor se defender.
À frente da linha de defesa estavam três bárbaros, todos vestindo gibões de pele e carregando machados grandes nas mãos, além de machadinhas penduradas na cintura. Na linha posterior ficavam duas meio-orcs. Uma já preparava um disparo em seu arco longo, sua armadura de couro delineando seu corpo. Ela tinha um machado de batalha pendurado às costas e uma aljava ao lado direito da cintura. Já mirava nos aventureiros que se aproximavam. A outra meio-orc vestia um robe negro sujo com alguns detalhes em vermelho e seu cajado era de uma madeira escura.
Atrás da linha espaçada com as meio-orcs estava um tiefling. Ele empunhava uma adaga e usava vestes que se destacavam no meio da miséria de seus aliados. Vestia-se de preto, uma roupa razoavelmente apresentável, mesmo considerando os padrões de Tomhills. Ele olhava confiante para os invasores, coçando sua barbicha enquanto se aproximavam com armas em punho. Não demorou muito para que as forças se chocassem e a batalha tivesse seu início.
Os bárbaros seguiam o mesmo padrão de ataque que os brutamontes com os quais os aventureiros já tinham lidado, eram capazes de ataques devastadores mas pecavam na defensiva. As meio-orcs procuravam bombardear os invasores com disparos de flechas e magias à distância, tentando impedir que chegassem até seu líder. Ele também lançava magias, usando o fogo como arma para manter-se seguro atrás das linhas de seus comandados. Elros energizou o corpo da maioria de seus aliados para protege-los e avançou à frente de todo o grupo, chegando próximo do líder adversário, onde foi interpelado por dois dos lutadores de machado grande.
Arannis seguiu pela parede à esquerda da ofensiva, colando no brutamontes que sobrava. Sua espada cortava fácil armadura e carne do oponente, que não hesitava em revidar com seus golpes pesados. Alanna se adiantou para tentar auxiliar o battlemind, mas não fora rápida o suficiente para alcança-lo. Arthur seguira no mesmo ritmo, enquanto Malaggar avançava para cima da maga, do lado oposto ao que o bladesinger havia ido. Luize disparava da retaguarda, usando sua magia para tornar o machado do drow ainda mais afiado, enquanto Shaisys disparava sua magia infernal nos inimigos mais próximos.
As trocas de golpes se seguiram, o grupo continuava avançando na direção das mesas onde o tiefling estava, os humanos e as meio-orcs sendo cercados de ataques que em sua maioria acabavam atingindo seus alvos. Mesmo assim, os bandidos não estavam dispostos a perder tão facilmente e usavam de todos meios possíveis para causar problemas aos invasores. A arqueira logo teve que abandonar seu arco em favor de seu machado de batalha, golpeando com força quem se aproximava. O battlemind e o paladino foram cercados na ofensiva, lutando costas-a-costas, trocando de alvos sempre que possível, seus escudos trabalhando para impedir os golpes inimigos.
O sacerdote negro se engajou num combate físico com a maga, atraindo-a para fora da confusão com seus golpes direcionados para poder finaliza-la com mais facilidade. Ela tentava resistir, buscando sair de seu alcance para disparar suas magias, mas depois de algum tempo, com auxílio das flechas de Luize, acabou tombando. A barda também havia ajudado Arannis a derrubar o humano que enfrentava antes de seguir para a meio-orc que havia desistido do arco longo. Alanna usava suas manobras para criar escudos psiônicos em torno dos aliados, visando protege-los dos ferimentos causados pelos cortes e disparos inimigos.
Logo os dois humanos, cercados pela maioria dos aventureiros, tombaram. O tiefling também começou a ser atacado e a ter dificuldades para evitar o assédio das armas inimigas. A meio-orc permanecia na luta, sua resistência começando a ceder. Malaggar estava em chamas quando Arthur acertou um ataque certeiro com seu machado no tiefling, que foi ao chão sangrando, enquanto se rendia. Ele desistiu da adaga se levantou cambaleante, observado com desconfiança pelos seus adversários. A meio-orc também largara seu machado e encarava o chão, incerta do que o futuro lhe reservava.
- Eu sou Barash e me rendo. – Deu de ombros o tiefling. – Prefiro voltar para a prisão.
- Vamos matar ele! – Esbravejou o drow.
- Não! Espera! – Interveio o paladino.
- Vamos lhe amarrar então. – Respondeu Arannis.
- É mesmo preciso? Eu vou me comportar bem, sei o que acontece se não o fizer. – Ele se aproximou da mesa que tinha vários papéis em sua superfície.
- Acha que vamos deixar assim, tão facilmente? – Foi a questão proferida enquanto o grupo amarrava a meio-orc.
- Posso ajudar, sabe. Bastante. – Reiterou o líder bandido enquanto Amgram e Magusar se juntavam na sala.
- Ajudar como?
- Veja bem, a questão é toda muito simples. Vocês sabem o que houve com a disputa entre os condes Wachter e Taylor pela mão da jovem Ava DeLonge, certo? O conde Taylor se sente ultrajado até hoje. Quando Skiba quis tirar o duque do poder, ele logo se aliou. E ele estava disposto a fazer de tudo para que funcionasse. Vocês devem saber também que o jovem Edward Breckenridge é o braço direito de Matthew Wachter, aliado do duque DeLonge.
- Aquele... – Se enfureceu Alanna ao se lembrar do ex-noivo.
- Temendo pela assembleia, Wachter mandou Edward me contratar para acabar com Amgram para que ele não pudesse depor. Só que ele não sabia que o jovem Breckenridge estava mancomunado com o conde Charles Taylor. Charles, sabendo disso, resolveu tirar proveito e me instruiu em como proceder com os ataques. Por isso eles foram feitos usando as cores do duque, ele queria incriminar o duque e usar isso a favor de Skiba.
- Charles? Se ele está por trás disso... – Ponderou a meio-elfa.
- Isso eu realmente não esperava. – Amgram coçou sua longa barba.
- Isso não só deixaria o duque desconfiado de seu maior aliado, conde Wachter, como ainda confirmaria sua culpa por tentar agir contra uma testemunha. Pobre duque Thomas, depois de tantos mandos e desmandos iria acabar caindo pela incompetência daquele que protegeu. – Continuou o tiefling antes de outra pausa.
- Irônico. – Comentou Elros, o resto do grupo com os olhos arregalados pela revelação.
- Desesperado, Wachter então tentou sequestrar o conde Hazel para impedir que Amgram fosse até a assembleia. Nós tínhamos que aceitar para não levantar suspeitas de nossa aliança com Taylor, então fizemos da melhor maneira possível para defender nossos interesses. Não iríamos manter Amgram depois que a troca fosse feita. Mas vocês interviram e acredito que Annara foi bem generosa com as informações. Generosa demais.
- Isso ela foi. – Brincou Arannis.
- Espera. Se o Edward avisou sobre o sequestro do meu pai, será que ele fez isso para me ajudar? – Ponderou a ardent.
- Não sei não. – O anão pensava.
- Então cá estamos nós, derrotados. – O ladrão abriu os braços. - Enquanto o duque e o conde Skiba aparentemente disputam a liderança de maneira correta, seus braços direitos se matam pelas sombras, um armando contra o outro em busca de mais poder, tudo para que seu patrono vença. E hey, eu estou vivo, sei de tudo e posso ajudar. Se vocês me manterem vivo até lá, posso depor a favor de vocês. Tenho certeza que o conde Hazel vai apoiar.
- Parece ótimo pra mim. – Deu de ombros o anão.
- Quanta coisa... – Suspirou Arthur.
- Interessante. Interessante. – Murmurava o drow, memorizando tudo para informar aos superiores.
O bladesinger então se aproximou do anão enquanto eles averiguavam a sala. Arthur havia ido até o corredor que seguia, apenas para ver que ele terminava em escombros. A água suja e fétida vazava desses escombros, que provavelmente cortavam a seção da rede útil de esgotos da cidade. Não havia nada oculto por ali, logo puderam comprovar.
- E se ao invés de levar ele preso, pudéssemos fazer dele um membro da guilda? – Perguntou o bladesinger.
- Não sei. Acha que daria certo? – Questionou o anão.
- Alguém como ele?
- Ele parece leal. Ser um membro da guilda é melhor que ficar preso. – Arannis deu de ombros.
- Eu realmente não sei. Pode ser que funcione, pode ser que não. Mas acho que não seremos nós a decidir se ele vai preso ou não. – Explicou Amgram.
- Por que levar alguém como ele para a guilda? – Questionou a meio-elfa.
- Nós precisamos de gente! Perdemos quase todos os membros.
- Não parece uma boa ideia. – Malaggar falou desconfiado.
- Bom, vamos ver depois. – O anão terminou a discussão.
- Vejam só! – Arannis chamou a atenção de todos.
Na mesa haviam vários documentos e correspondências. O grupo logo avançou para pegá-las enquanto o tiefling se encolhia. Não tiveram o ímpeto de ler tudo naquele momento, mas deram uma rápida folheada em seu conteúdo. Puderam notar vários documentos de funcionamento da gangue e várias cartas trocadas. Inclusive cartas enviadas para o conde Charles Taylor. Alanna olhou chocada o conteúdo de uma das cartas, notando que o líder do bando era amante do nobre em questão.
- Você era amante do conde? – Ela perguntou enquanto o tiefling desviava o olhar.
- Isso sim é inesperado. – Arthur olhava com uma expressão de confusão.
- É mesmo? – Shaisys arregalou os olhos.
- E o Arannis defendendo tanto ele...
- Eu retiro minha indicação! – Respondeu o bladesinger enquanto ria.
- Quem poderia imaginar que o conde Charles teria um amante. – A ardent encarava o prisioneiro.

...

O grupo estava de volta à mansão dos Hazel e se reunia no escritório do patriarca da família relatando todas as descobertas feitas enquanto o prisioneiro era guardado por quatro guardas numa poltrona afastada. Depois que tudo foi contado e esclarecido, os documentos foram todos entregues. O conde analisou tudo com calma e disse que teria uma grande base de argumento para favorecer conde Skiba na Assembleia. Ele agradeceu ao grupo e pediu para que descansassem e passassem mais tempo dentro da mansão nos dias seguintes. Duvidava que novos ataques fossem feitos agora que a rede de mentiras e armações fora quebrada com o fim dos Bodes Negros.

...

Os dias se passaram sem grandes acontecimentos. Alanna ficava todo tempo possível ao lado dos pais enquanto o restante do grupo passava seu tempo andando pelo quintal da casa e vigiando as proximidades. Na manhã do dia da Assembleia, os membros do grupo receberam suas recompensas. Alguns receberam em ouro, outros em itens mágicos. Conde Hazel fizera um agrado para os mercenários mais próximos e mais ativos durante os dias de dificuldade, presenteando-os com itens que jaziam no tesouro da família. Em seguida saiu para a famigerada Assembleia, acompanhado de Amgram e de seus guardas.

...

Conde Hazel voltara da Assembleia com um grande sentimento de alívio estampado no rosto. Amgram sorria quando entraram na casa. O grupo e a família Hazel se reuniram em torno do novo braço direito do recém-nomeado duque de Tomhills, Matthew Thomas Skiba. Com seus esquemas desmantelados, as casas Wachter, Breckenridge e Taylor caíram em desgraça. Membros importantes destas famílias foram presos e seus títulos e propriedades foram todos tomados para a cidade numa votação unânime.
Todos ficaram felizes com o anúncio da vitória de Skiba e fim da era de terror do duque Thomas. Apesar de ser afastado do cargo de duque, os DeLonge ainda seriam nobres, pois apesar de tudo que acontecera ninguém conseguira provar o envolvimento de Thomas nos acontecimentos. Ele foi apenas um péssimo governante, não um criminoso. Conde Marshal contou como ele aceitou a decisão, resignado e conformado. Saber de todo esquema sujo que acontecia pelas suas costas pareceu ter deixado o antigo duque bastante abalado. Talvez ele realmente achasse que não fomentava esse tipo de situação. Amgram então falou, alertando o grupo para que descansassem e se arrumassem para partir na manhã seguinte.
Alanna aproveitou o tempo para se reconciliar totalmente com o pai e também para contar em detalhes todos os fatos que a levaram a fugir de casa. O conde, já sem o peso da Assembleia nas costas, foi bastante receptivo e atencioso. Reforçou suas opiniões e deixou claro que a filha ainda era bem-vinda em casa quando quisesse. Ela deixou uma carta a ser entregue para o irmão, explicando os mesmos fatos abordados com o pai. Arannis também tomou um pouco do tempo do conde para falar de suas intenções com a meio-elfa, mas o mesmo deixou bem claro que sua filha podia decidir por si. A filha dos Hazel ainda incentivou o pai a abrir negócios em Scottner, pois acreditava na prosperidade da cidade dali em diante. Com todos em bons termos, os aventureiros se prepararam para a viagem.

...

A viagem de volta fora tranquila e razoavelmente rápida. O grupo tivera como companhia vários outros viajantes enviados pelo novo duque para auxiliar na reestruturação de Scottner. Construtores, carpinteiros, soldados e todo tipo de profissional foram enviados. Isso atrasou um pouco a viagem, mas tornou tudo muito mais seguro. Ninguém ousou entrar no caminho da caravana e por isso não tiveram nenhum confronto, mesmo depois de chegar na floresta que cercava a cidade. Foi uma viagem produtiva e até certo ponto divertida, alguns ansiosos por voltar para a nova casa.

...

- Sejam todos bem-vindos! – Scott Raynor recebeu a todos na entrada da cidade de braços abertos.
- Trouxemos uma pequena ajuda de Tomhills. Cortesia do novo duque, Matthew Skiba. – Comentou o anão enquanto passava pelo nobre.
- É o começo de uma era dourada! – Sorriu entusiasmado o duque de Scottner.
- Como estão as coisas? – Perguntou Arannis, cumprimentando o homem.
- Tudo indo bem. Recuperamos as minas. A produção ainda é bem pequena, mas aos poucos vamos trabalhando nisso. Tudo vai melhorando a cada dia.
Todos seguiram em busca de descanso. Alguns priorizaram encontram as crianças que haviam deixado, brincaram, presentearam e se divertiram. Outros simplesmente foram para a taverna. A cidade seguia evoluindo e todos estavam animados com o desfecho da última missão. Alanna tinha o espírito leve, a sensação de ter tirado um peso gigante das costas. Todos puderam perceber na viagem de volta e mesmo as crianças conseguiram notar. Dias animados seguiriam dali em diante.

2 comentários:

  1. Quanta burocracia e um tentando passar a pena no outro, assim é o mundos dos nobres sempre em busca de mais poder e mais dinheiro.
    Quero so ver como vai ser a nova postagem e o Que sera que aconteceu com minhas crianças e a cidade de Scottner.
    Alanna se prepara que agora vou com tudo....uahsauhasus

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