sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Biblioteca: Através dos Olhos do Lobo

Através dos Olhos do Lobo

Esta história ganhou uma fama de fábula e sua canção se tornou bastante famosa entre todo tipo de trovador pelo continente. Ela trata do amor de Elyghen, o Lobo, por uma sacerdotisa do fogo, Alisha. Lobo foi um título dado ao sacerdote azul por se destacar em Daarmstagg, pois o animal é um dos símbolos de Thoriann. Elyghen já tinha seus trinca e cinco anos quando os fatos da história aconteceram, era um homem muito devotado à religião e até então não havia encontrado sua amada.
Pagando uma penitência auto imposta, o sacerdote perambulava pelo continente em busca de absolvição. Graças ao seu desempenho nas batalhas de seu reino contra os draconatos de Eagwak, o Lobo ganhou uma fama que se espalhou rapidamente pelas nações vizinhas. Era ótimo guerreiro e implacável com seus adversários, jamais demonstrando piedade. Por onde ele passava sua fama se espalhava conforme ele lidava com aproveitadores e bandidos azarados que cruzavam seu caminho e tentavam, em vão, fazer-lhe mal. Ajudava na fama suas vestes consideradas rústicas pelo povo mais ao centro e sul do continente, incomodadas com as peles de lobo usadas pelo homem.
Quando caminhava pelo Bosque Qarinays, o Lobo avistou a bela Alisha. A sacerdotisa vestia sua capa vermelha por cima das vestes, uma grande espada nas costas se destacando. Sua avó, uma antiga sacerdotisa do fogo, vivia naquele bosque, isolada do mundo depois que seu dever com a fé havia sido completado. Escolhera o local tranquilo para viver ao lado do amado que a havia deixado alguns anos atrás. A jovem dama do fogo visitava sua avó com alguma frequência e aquela era só mais uma de suas visitas.
O Lobo estava descansando próximo aos limites norte do bosque quando viu a figura vermelha adentrando a floresta. Inicialmente pensando que pudesse ser uma ameaça, ele espreitou pela mata para se certificar do que acontecia. Foi então que foi arrebatado pela beleza jovial de Alisha. Pela primeira vez na vida, vira-se sem palavras, encurralado. Com medo de ser rejeitado, ele seguiu ela por todo trajeto até a cabana de sua avó, seu coração palpitando cada vez mais forte. Quando chegaram até o destino da garota, ficou do lado de fora tentando saber o que se passava.
A avó da garota pediu para que a mesma fosse até um córrego próximo buscar água para um chá e o Lobo aproveitou a chance para se aproximar da velha em busca de ajuda. Ele tentou bater na porta, mas não houve resposta. Obstinado, abriu a porta e adentrou a cabana em prontidão. Não conseguia imaginar que as coisas mudariam daquela maneira. A velha havia percebido sua aproximação e, temendo que fosse um dos bandoleiros comuns àquelas terras, armou uma emboscada para ele.
Ela havia sido uma sacerdotisa do fogo também, por isso sabia lutar. Avançou contra o homem com o mesmo ímpeto que tinha quando mais jovem, faria de tudo por sua querida neta. Por reflexo, Elyghen sacou sua espada curta e, na tentativa de se defender, acabou tirando a vida da enraivecida senhora. Desesperado com o que acontecia, ele tentou tudo que podia, mas nada podia fazer para impedir sua morte. Ele tentou, em prantos, se desculpar e explicar o que acontecia, levando a velha até sua cama.
Foi então que Alisha chegou. Ela viu a vó toda ensanguentada com sua vida escorrendo por entre os dedos. Quando viu seu sangue na lâmina que o homem segurava, entrou num estado de fúria descontrolada, típica dos amantes do fogo. O Lobo tentou se defender e conseguia com certa facilidade rechaçar os ataques da garota, tentando argumentar e explicar o que acontecera. Quando não viu outra saída, ele enunciou seus sentimentos pela pequena dama do fogo, que perplexa não conseguiu fazer mais nada que não fosse chamar ele de monstro.
Chocado com o desenrolar dos acontecimentos e de coração partido, o Lobo simplesmente desistiu de se defender, seu bom senso ofuscado pela dor que apertava seu coração. Indiferente à vida, deixou-se ser golpeado pela pesada espada da sacerdotisa vermelha, sendo morto num único golpe. Ele morreu sorrindo, feliz por finalmente ter entendido o que era amor e a notícia do acontecido logo se espalhou. A velha, em seus últimos suspiros, contou à neta o que o homem havia dito e, perplexa, ela levou a história adiante.
O astuto bardo Damnagoras aproveitou a fábula trágica para lançar-se ao conhecimento de todos. Ele ainda era jovem e, embora essa fábula realmente seja contada na região do Bosque Qarinays, não existe certeza de que Elyghen e Alisha realmente existiram. Mas a lição da fábula continua válida, agir de maneira imprudente é um meio garantido de cometer injustiças.

Através dos Olhos do Lobo
Damnagoras 

Desde que ele nasceu, ele tentou descobrir
Procurando por algo, só para não ficar pensando na lua
Um dia, ele viu a pequena capa escarlate
Ele apaixonou-se e a seguiu pela floresta

Dia após dia, ele se escondia com medo atrás das árvores
Claro que um lobo feio a teria matado
"Um lobo nunca vai se sentir" - que é o que eles dizem
Dentes e garras para caçar e destroçar, abater, matar e destruir

"Eu faria qualquer coisa para ouvir sua voz doce chamando meu nome
Eu não serei mais o mesmo, nos braços de meu amor
Vou encontrar-lhe um pequeno presente e eu vou amá-la tanto quanto puder
O amor de um lobo - não o amor de um homem"

E caminhando, a pequena estrela vermelha
Apenas com a sua beleza ela estava curando suas cicatrizes

A única chance de deixá-la saber como ele se sentia
Comendo sua avó e se esgueirando em sua cama
Mas ela começou a gritar "oh, me ajude por favor!"
O lobo foi atingido com o que eles chamam de "doença do coração partido"
E, como um raio de luz que vêm de lá de cima
O lobo foi morto e com um sorriso morreu em nome do amor

"Eu faria qualquer coisa para ouvir sua voz doce chamando meu nome
Eu não serei mais o mesmo, nos braços de meu amor
Vou encontrar-lhe um pequeno presente e eu vou amá-la tanto quanto puder
O amor de um lobo - não o amor de um homem" 

- “Cantigas Populares”, Amberlle Eällas

  
Música: “Through Wolf’s Eyes”
Álbum: “Era”, Elvenking (2012)
Compositores: Davide "Damna" Moras
Não detenho quaisquer direitos sobre a música.


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